NEO, o robô criado para ajudar em tarefas domésticas, reacende o debate sobre o futuro do cuidado
O que você vai descobrir a seguir:
- • Por que robôs humanoides como o NEO podem mudar nossa relação com o trabalho.
- • Como a presença desses robôs em casa desafia o papel do cuidado humano.
- • As questões éticas e sociais por trás da substituição (ou não) de quem cuida de pessoas.
A gente já se acostumou com o conforto de ligar a luz com um clique, pedir comida com três toques no celular, deixar o aspirador robô passear pela casa enquanto resolvemos mil outras coisas. Mas e se o próximo passo for algo ainda maior? E se a próxima fronteira não for digital, e sim física, com braços, pernas e talvez até uma certa “personalidade”?
Foi isso que Bernt Børnich, fundador da 1X, trouxe ao apresentar o NEO no TED2025. Um robô humanoide que não só limpa a casa e rega plantas, como também aprende com você. Observa, repete, testa de novo. Um tipo de inteligência artificial que ganha corpo e rotina, literalmente.
Mas a grande sacada de Bernt está além da engenharia. O que ele propõe é uma inversão de lógica: ao contrário do que se pensava, os robôs não devem aprender nas fábricas, e sim em casa. Porque é no cotidiano, com suas variações infinitas, que nasce a inteligência real. Um copo pode estar limpo, sujo ou esperando alguém. Um móvel pode ser obstáculo ou apoio. Um robô precisa entender tudo isso, e muito mais.
Quem cuida de quem cuida? O dilema humano no avanço das máquinas
Entre as muitas tarefas que NEO promete assumir, há uma que chama atenção: cuidar de pessoas. Ajudar um idoso com a medicação. Acompanhar alguém com mobilidade reduzida. Estar ali, presente. Mas é justamente aí que mora uma das maiores questões éticas dessa revolução.

A chamada “economia do cuidado” – aquela que envolve trabalho doméstico, emocional, de suporte físico e psicológico – movimenta trilhões de dólares no mundo e, ainda assim, é subvalorizada, precarizada e, muitas vezes, invisível. São em sua maioria mulheres, especialmente negras e periféricas, que sustentam esse setor. Substituí-las por robôs não é apenas uma inovação tecnológica. É uma decisão com implicações sociais profundas.
Podemos mesmo automatizar o cuidado? O toque, o olhar, a escuta ativa, esses aspectos sutis e insubstituíveis do cuidado humano, cabem em linhas de código? É verdade que robôs podem aliviar tarefas repetitivas e garantir segurança. Mas é igualmente verdade que eles não amam, não têm intuição, não reconhecem o cansaço no olhar de alguém querido.
Antes de celebrarmos a substituição, precisamos discutir a valorização. O que esse movimento diz sobre o quanto reconhecemos (ou não) o trabalho de quem cuida? E se, em vez de pensar em “substituição”, pensássemos em como a tecnologia pode complementar, sem jamais apagar, o fator humano?

NEO pode parecer só mais um gadget futurista. Na prática, é um espelho bastante nítido do presente. E talvez, mais do que isso, uma pergunta viva: o que significa ser humano num mundo onde até as máquinas querem aprender a ser como a gente?
Talvez o que assuste não seja o avanço da tecnologia em si, mas a ideia de dividir nossa intimidade com algo que, embora eficiente, ainda não sente, não hesita, não erra como nós. Será que estamos prontos para conviver com o reflexo artificial da nossa humanidade dentro de casa?
Assista à palestra completa de Bernt Børnich no TED para entender essa visão em primeira mão:
Fonte:Inova Social