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Rachadinha e Petrolão: irmãos na degradação da coisa pública

Quando a sociedade brasileira definiu, nas últimas eleições presidenciais, que desejava dar um basta na velha política, na corrupção e na impunidade do nosso sistema processual, estava vocalizando, principalmente, pela moralização da gestão da coisa pública.

Pois bem, hoje nos deparamos com a possibilidade de termos um presidente da República e seu filho mais velho, este último ocupante de cargo eletivo no Poder Legislativo, envolvidos – em passado recente – com a desonesta e imoral prática conhecida como “rachadinha”.

Há quem diga, querendo se enganar, que a rachadinha, ao contrário de escândalos como o Petrolão e o Mensalão, envolve apenas pequenas importâncias e, ainda, que é hábito recorrente, comum e generalizadamente operado em gabinetes de parlamentares Brasil afora.

Trata-se de uma balela para minimizar a sinalização de algo gravíssimo que, inclusive, vulnerabiliza a confiança depositada pelos eleitores nas urnas de outubro de 2018.

As repugnantes rachadinhas estavam no mesmo pacote das práticas que a sociedade desejava ver definitivamente banidas, junto com o superfaturamento e as fraudes nas licitações. Até porque todos esses desvios eram miseravelmente considerados o business as usual no cenário da administração pública brasileira.

Temos que entender de uma vez por todas que quem pratica a rachadinha não é menos desonesto do quem pratica uma fraude em licitação da Petrobras. A falta de respeito em relação a coisa pública é idêntica nos dois casos. A diferença não é no caráter, mas na dimensão e envergadura do operador para transgredir, fraudar e desviar recursos públicos.

Quem é pequeno cometerá desvios rasteiros, da mesma estatura de si próprio, de sua capacidade e do ambiente pelo qual transita. Quem é baixo clero vai produzir, invariavelmente, transgressões compatíveis com o seu alcance e com o seu métier.

Não há de se falar aqui em “pequenas desonestidades”, mas sim em pequenas oportunidades. O desonesto segue existindo, com a mesma medida e grandeza. A fome é a mesma, e o que varia é a fartura da mesa posta à sua frente.

Por fim, definitivamente nada nos autoriza a acreditar que no dia em que as oportunidades se avantajarem, as ocasiões se multiplicarem e que os horizontes se abrirem, o político que foi desonesto amiúde, por décadas a fio, irá agir honestamente.

Coluna Jorge Pontes, VEJA.


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