Mortes por Covid-19 em SP dobram em 15 dias e podem chegar a 10 mil até fim de maio; governo atribui piora à queda no isolamento
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Enquanto a taxa de ocupação dos leitos de UTI, as mortes e os casos confirmados de Covid-19 aumentaram sistematicamente nos últimos 15 dias, o isolamento social em São Paulo permaneceu sempre abaixo dos 50% durante os dias úteis. O governo estadual atribuiu a piora nos índices à queda na adesão à quarentena.
Segundo porta-vozes do Centro de Contingência Contra o Coronavírus, o afrouxamento do isolamento, verificado desde a segunda semana de abril, pode fazer com que o estado chegue ao final de maio com até 10 mil mortes causadas pela doença. Até esta sexta-feira já foram registrados 3.406 óbitos – 210 deles só nas últimas 24 horas (veja mais nos gráficos abaixo).

Nos últimos 15 dias a taxa de ocupação dos leitos de UTI aumentou 22% no estado de São Paulo e foi de 57,7% no dia 24 de abril para os atuais 70,5%. Na Grande São Paulo o aumento foi de 16%: a lotação dos leitos foi de 76,9% em 24 de abril para os 89,6% verificados nesta sexta-feira (8).
Nesse mesmo período em que as UTIs encheram, a taxa de isolamento se manteve sempre abaixo de 50% de segunda a sexta-feira, exceto em feriados ou emendas. A adesão à quarentena começou a cair sistematicamente a partir da segunda semana de abril.
De 24 de março, quando a quarentena foi decretada, até o dia 8 de abril, o índice nunca ficou abaixo de 50%, em qualquer dia da semana. Depois de 8 de abril, o índice só superou a barreira dos 50% em feriados, emendas e finais de semana.
A queda no isolamento e o aumento na ocupação das UTIs acompanham a disparada nos casos confirmados e nas mortes causadas por Covid-19 nos últimos 15 dias. As mortes cresceram 111% nos últimos 15 dias, ou seja, o total de óbitos mais que dobrou no período de duas semanas. Já os casos confirmados subiram 123% desde 24 de abril. O aumento foi ainda maior no interior e no litoral, onde a doença está se propagando quatro vezes mais rápido do que na capital.

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Leito de UTI para atendimento a pacientes graves do novo coronavírus no Hospital das Clínicas de São Paulo — Foto: Divulgação/Governo de SP
Especialistas avaliam que a taxa de quase 90% de ocupação na região metropolitana acende um sinal de alerta para um possível colapso do sistema. O aumento na ocupação dos leitos na capital ocorreu apesar do incremento no total de leitos de UTI disponíveis. Só na cidade de São Paulo foram criados três hospitais de campanha. No Hospital das Clínicas, 100 novos leitos de UTI foram adicionados. No Emílio Ribas, são pelo menos 20 novas UTIs em funcionamento. A prefeitura também adicionou leitos do tipo em hospitais municipais, como o da Bela Vista, na região central.
Essas três variáveis são condições do governo estadual para determinar a reabertura gradual da economia: é preciso haver isolamento acima de 55%, ocupação de UTIs abaixo de 60% e uma redução sustentada dos casos de Covid-19 por pelo menos duas semanas para que a quarentena seja flexibilizada, anunciou a equipe do governador nesta sexta-feira (8).
11 mil mortes até o fim de maio
Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e atual coordenador do combate à Covid-19 em São Paulo, a projeção é que o estado tenha de 9 mil a 11 mil mortes e de 90 a 100 mil casos confirmados até o final de maio, caso a taxa de isolamento fique em cerca de 55%.

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Governo de São Paulo projeta até 100 mil mortes até o final de maio com isolamento a 55% — Foto: Reprodução/Governo de São Paulo
Ele afirma ainda que a alta nos últimos dias deve se repetir nas próximas semanas porque qualquer medida demora cerca de duas semanas para se refletir nos dados oficiais. Isto ocorre porque os primeiros sintomas da doença podem demorar até 14 dias para aparecer após o contato inicial com o vírus. Há ainda a demora para que seja feito o diagnóstico com exame laboratorial e para que esse caso seja notificado oficialmente.
“Esses casos de hoje são uma fotografia do passado, são casos de duas ou três semanas atrás, que é o tempo que isso normalmente demora até o registro. Nós não conseguimos alterar essa curva com as medidas que nós tomamos hoje, isso já está em curso. Vamos começar a ter poder de alterar a curva a partir de duas semanas”, disse Dimas Covas em coletiva de imprensa nesta sexta (8).

Em entrevista à GloboNews na tarde desta, o governador João Doria não nega que é possível haver colapso no sistema de saúde público no estado de São Paulo. “Nesse momento não, está sob controle, mas é possível. Tenho que reconhecer e falar a verdade com toda a transparência: se nós tivermos um acentuado crescimento do vírus no interior e no litoral do estado além daquilo que já temos na capital, isso [colapso] poderá ocorrer”, disse o governador.

Doria admite possibilidade de colapso na saúde se houver acentuado crescimento do vírus
Ele aproveitou para cobrar o governo federal, a quem ele atribuiu a falta de equipamentos como máscaras e respiradores em São Paulo.
“Mais uma razão para que o Ministério da Saúde atenda aos apelos feitos por São Paulo para atender à necessidade com os leitos, com os EPIs e também com os respiradores. Ainda temos um outro desafio que é mão de obra suficiente para o atendimento, com médicos, enfermeiros e paramédicos”, completou Doria.
Taxa de contágio
Outro dado que preocupa o governo estadual é a taxa de contágio, que mostra quantas pessoas são infectadas, em média, por cada paciente de coronavírus. Segundo Dimas Covas, do Butantã, é preciso que essa taxa seja inferior a 1 para estabilizar a propagação do vírus no estado.
“A taxa de contágio inicial era em torno de 2,9. Um indivíduo infectado produzindo até três infecções secundarias. Depois da adoção das medidas, com 55% de afastamento social, essa taxa de contagio se reduziu para 1,16. O ideal é que o afastamento social fosse em torno de 70% porque aí nós teríamos uma taxa de contágio inferior a 1, e com isso a epidemia se estabilizaria e começaria a cair”, disse na sexta.
“Neste momento o que não pode acontecer é que essa taxa de contágio suba, e ela subirá inevitavelmente se o isolamento social começar a cair”, completou.

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Taxa de contágio da Covid-19 pode cair para 0,87 em SP com isolamento a 70% — Foto: Reprodução/GloboNews
O governo estadual anunciou nesta sexta que, além do isolamento social, ocupação de UTIs e casos novos confirmados também serão critérios para anunciar a reabertura do comércio em São Paulo.

Segundo o comitê de contingência contra o Covid-19, é preciso haver isolamento acima de 55%, ocupação de UTIs abaixo de 60% e uma redução sustentada dos casos de Covid-19 por pelo menos duas semanas para que a quarentena seja flexibilizada.
Fonte: G1.