Política

De “meu exército” a “malucos”: a virada de Bolsonaro contra seus apoiadores

Nomes como Júnior César Peixoto, Débora Rodrigues dos Santos e Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza talvez não sejam imediatamente reconhecidos pelo leitor. Mas quando associados como o Patriota do Caminhão, a Manicure do Batom e a Dona Fátima de Tubarão, a memória de muitos começa a se ativar. Essas figuras, como tantas outras, ganharam notoriedade durante os atos antidemocráticos que marcaram o período pós-eleições de 2022.

Foram eles que estiveram à frente dos protestos, acamparam em frente a quartéis, pediram intervenção militar e defenderam com fervor o já ex-presidente Jair Bolsonaro. Em nome de uma suposta “liberdade” e de um país sem corrupção, ignoraram evidências científicas, rejeitaram vacinas, atacaram a cultura e deslegitimaram o ensino superior.

No entanto, esse discurso começou a ruir no último dia 10 de junho, quando o próprio Jair Bolsonaro declarou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF):

“Tem uns ‘malucos’ que pediam intervenção.”

Sim, ele falou. E sim, era sobre seus apoiadores. Os mesmos que o colocaram no poder e seguiram fiéis mesmo após a derrota, ficando sob sol e chuva por vários dias. Agora, descartados como se fossem memes vencidos de “Zap”.

É o tipo de frase que escapa como quem conta uma piada em uma mesa de bar, mas explode como granada. Afinal, como alguém que incentivou essa onda de fanatismo político pode agora tratar seus seguidores como loucos inconvenientes?

Os “malucos” de Bolsonaro não são personagens fictícios. São gente real, que parou a vida para seguir um ideal, ou pelo menos o que acreditavam ser um. Vestiram a camisa da Seleção para tudo, menos para ver a Seleção. Acamparam por semanas, jejuaram, rezaram, fizeram lives, passaram vergonha pública televisionada, em muitos casos, numa Paulista ou Copacabana “lotadas”. Tudo por um mito que agora os despreza.

É como se a música de Raul Seixas tivesse sido regravada direto do Planalto Central: sai o Maluco Beleza, entra o Maluco Problema. Aquele que antes servia como símbolo da luta, mas agora só atrapalha a narrativa de defesa.

E a comparação não é à toa. Raul celebrava o diferente, o pensamento livre, o fora da curva. Já o “maluco” patriota virou o oposto: repetidor automático de corrente falsa, conspirador de aplicativo, devoto do que quer que o líder diga e, agora, uma figura incômoda em um processo criminal de golpe de estado.

Diante disso, os chamados “heróis patriotas” passaram de símbolo de resistência a material de deboche nas redes sociais. De” vocês são meu exército”, tornaram-se” são uns malucos”. E assim, os patriotas viraram meme. De beleza… só restou a ironia.

Fonte:O Anhanguera

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