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Os 10 cardeais favoritos na disputa pelo posto de novo papa

“Há grande especulação sobre quem, dentre os cardeais, poderá ser o próximo papa”, reconhece a medievalista Rebecca Rist, professora da Universidade de Reading, na Austrália. “Mas existe um ditado tradicional dizendo que ‘Aquele que entra no conclave como papa, sai como cardeal'”, destaca. – (crédito: AFP)

Com a data do início do conclave marcada — 7 de maio —, a bolsa de apostas sobre o futuro papa movimenta vaticanistas e especialistas em catolicismo. Teoricamente, qualquer homem batizado que viva de acordo com as leis da Igreja pode ocupar o trono deixado vazio por Francisco. Por tradição, porém, costuma-se escolher cardeais, e há 252 deles no Vaticano. Porém, um número bem mais enxuto figura entre os papabili — os mais cotados, sendo que um dos mais citados é o cardeal italiano Pietro Parolin, considerado conciliador. 

Mas, diferentemente de eleições presidenciais, não há pesquisas capazes de prever o futuro pontífice. O argentino Jorge Mario Bergoglio, por exemplo, foi um nome forte em 2005, na sucessão de João Paulo II. Porém, em 2013, quando foi escolhido, sequer constava na lista dos papáveis até que, na véspera do conclave, fez um discurso sobre a importância da Igreja se abrir e partir para a evangelização, e voltou a ganhar atenção da imprensa especializada. 

“Há grande especulação sobre quem, dentre os cardeais, poderá ser o próximo papa”, reconhece a medievalista Rebecca Rist, professora da Universidade de Reading, na Austrália. “Mas existe um ditado tradicional dizendo que ‘Aquele que entra no conclave como papa, sai como cardeal'”, destaca. Para Rist, há, entre os cardeais, entre 10 e 12 papáveis. “Eles vêm de uma ampla gama de países, que variam muito em suas ideias sobre a direção futura da Igreja Católica.”

A medievalista e especialista em catolicismo cita, por exemplo, Luis Antonio Tagle, das Filipinas, que vem sendo chamado de “Francisco asiático” devido a simpatia e simplicidade. “Ele é pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização e é considerado mais ‘liberal’, enquanto o guineense Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, representa a ala ‘tradicional’ da Igreja.”

Pré-conclave

Na sexta-feira passada, os cardeais reuniram-se pela primeira vez em uma espécie de “pré-conclave”. Segundo Bronagh Ann McShane, professora da Escola de Histórias e Humanidades do Trinity College Dublin, na Irlanda, as reuniões são uma rara oportunidade para os cardeais se encontrarem pessoalmente e começarem a formar opiniões sobre quem deve liderar a Igreja. “Em 2013, foi durante uma dessas sessões que o cardeal Jorge Bergoglio fez uma intervenção poderosa, que mudou percepções e, por fim, ajudou a pavimentar seu caminho para o papado”, recorda.

Além de Pietro Parolin, o segundo homem do Vaticano, cita o cardeal húngaro conservador Péter Edro, o italiano Matteo Zuppi e o filipino Luis Antonio Tagle. Mas não descarta outros nomes, incluindo o de Odilo Scherer, cardeal de São Paulo que, em 2013, estava entre os papabili. “Em meio a conservadores e reformistas, há os que se sentem incomodados com a própria polarização: são cardeais que podem ter admirado a visão de Francisco, mas buscam uma figura mais estabilizadora”, diz.

Os cardeais mais citados por vaticanistas como possiveis sucessores de Francisco:

Pietro Parolin (Itália), 70 anos

Diplomata altamente experiente, serviu como secretário de Estado — o número dois do Vaticano — durante quase todo o pontificado de Francisco e é uma figura proeminente no cenário internacional. Com sua figura ligeiramente curvada, voz delicada e temperamento calmo, ele viajou pelo mundo e conhece muitos líderes políticos, assim como os meandros da Cúria Romana. 

Luis Antonio Tagle (Filipinas), 67 anos 

Apelidado de “Chito”, é uma figura moderada que não hesitou em criticar a Igreja Católica por suas falhas, especialmente nos casos de pedofilia. Assim como o papa argentino, ele está na vanguarda da defesa dos pobres, migrantes e marginalizados, a ponto de ganhar o apelido de “Francisco asiático”. Foi nomeado por Bento XVI em 2012. Estava entre os papáveis de 2013. 

Fridolin Ambongo (República Democrática do Congo), 65 anos

O congolês Fridolin Ambongo, uma voz de destaque no movimento pela paz em sua terra natal, marcada por décadas de violência, pode obter o apoio de cardeais conservadores. Em 2023, ele se juntou aos protestos contra a autorização do papa Francisco para abençoar casais homoafetivos. Também é membro do C9, o conselho de nove cardeais encarregado de aconselhar o papa sobre a reforma da Igreja.

Peter Turkson (Gana),  76 anos

Turkson, um dos cardeais mais influentes da África, é frequentemente considerado o favorito para se tornar o primeiro papa negro da Igreja. Nascido em uma família modesta de 10 filhos, ele fala seis idiomas e apareceu diversas vezes no Fórum Econômico Mundial em Davos para alertar líderes empresariais sobre os perigos da economia. Apesar de ser contra a bênção de casais homoafetivos, é contra a criminalização da comunidade gay. 

Péter Erdö (Hungria), 72 anos

Intelectual austero, fala sete línguas, é apreciado por seus conhecimentos teológicos e sua abertura a outras religiões.  Fervoroso defensor do diálogo com os cristãos ortodoxos, também dedica atenção especial à comunidade judaica. Tem opiniões muito conservadoras sobre casais divorciados e recasados, assim como sobre casais homoafetivos. Foi criticado por seu silêncio diante das tendências antiliberais do governo húngaro de Viktor Orban. 

Pierbattista Pizzaballa (Itália), 60 anos

Grande conhecedor do Oriente Médio, esse franciscano e teólogo italiano fala hebraico e inglês e chegou a Jerusalém em 1999. Em setembro de 2023, ele se tornou o primeiro patriarca de Jerusalém em exercício — a mais alta autoridade católica no Oriente — a ser criado cardeal. Um mês depois, a guerra eclodiu entre o movimento islamita Hamas e Israel. Seus repetidos apelos pela paz o colocaram em evidência.

Jean-Marc Aveline (França), 66 anos

Aveline nasceu na Argélia em uma família de “pieds-noirs” — europeus, principalmente franceses, que residiam na Argélia durante o período colonial — de origem andaluza e passou quase toda a sua vida em Marselha. Em 2013, tornou-se bispo auxiliar desta cidade portuária francesa, onde defende o diálogo interreligioso e a defesa dos migrantes, dois pilares do pontificado de Francisco. Eleito presidente da Conferência Episcopal Francesa no início de abril. 

Michael Czerny (Canadá), 78 anos

Nasceu na antiga Tchecoslováquia, atual República Tcheca. Dois anos depois, sua família mudou-se para Montreal, no Canadá. Lá, o jesuíta frequentou a Escola Secundária Loyola. Por dez anos, até 2002, atuou como secretário da Secretaria de Justiça Social da Cúria Geral dos Jesuítas, em Roma. Foi nomeado pelo papa Francisco, de quem era muito próximo.

Mario Grech (Malta), 68 anos

Desempenhou um papel fundamental durante o sínodo sobre o futuro da Igreja convocado por Francisco. Grech era o secretário-geral da assembleia de bispos, que deliberava sobre questões cruciais como o lugar das mulheres e dos divorciados. Seu papel era o de um equilibrista, seguindo o desejo do papa argentino de criar uma Igreja aberta e vigilante, ao mesmo tempo em que reconhecia as preocupações conservadoras.

Matteo Maria Zuppi (Itália), 69 anos

Este diplomata discreto e experiente conduz missões de mediação política no exterior há mais de 30 anos. Membro da Comunidade Romana de Sant’Egidio, o braço diplomático não oficial da Santa Sé, ele serviu como mediador em Moçambique e como enviado especial do papa Francisco para a paz na Ucrânia. Goza de grande popularidade na Itália por seu trabalho com os mais desfavorecidos. Ele defende a aceitação de migrantes e fiéis homossexuais dentro da Igreja.

Fonte:Correio Braziliense

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