História que o povo conta

A Galinha e o Pintinho

A galinha foi buscar água no brejo. De repente, uma cobra surgiu das águas com um bote certeiro. A galinha pulou para trás, os olhos arregalados, quase desmaiando de susto.
— Olha só… uma comida facinha — sibilou a cobra ardilosa.
A galinha gaguejou, desesperada:
— Póh… póh… não me devore, dona Cobra! Só quero levar água pro meu filhinho… ele está chorando de sede!
Mas a cobra não deu ouvidos. Chamou as colegas, que emergiram da água e avançaram como um furacão, sem freio, querendo devorar a pobre galinha.
Com as pernas bambas, a galinha correu como pôde e chegou em casa arfando, cansada, rasgada e ferida — trazendo o balde vazio. Nenhuma gota de água.
— Vai deixar eu morrer de sede, mamãe? — perguntou o filhinho, com os olhinhos afogados em lágrimas.
A galinha, com um nó na garganta, andava de um lado pro outro sem saber o que fazer. Não havia água em lugar algum. O único poço que ainda tinha um restinho estava tomado pelas cobras — nenhum animal ousava se aproximar.
Foi então que o Urubu apareceu, com um olhar inesperadamente generoso, trazendo uma cabaça cheia d’água.
— Tome, dona Galinha. Salve o seu filhinho. Encontrei uma nascente escondida… água limpa, cristalina. Corre até pro mar.
O Cavalo, que estava ali perto, arregalou os olhos e gritou:
— Não tome essa água! Esse Urubu é safado!
E, sem pensar duas vezes, deu um coice certeiro que quebrou a cabaça. A água escorreu no chão seco.
O Urubu apenas abaixou a cabeça.
O Cavalo então contou:
— Na última seca, esse mesmo Urubu enganou a Vaca. Disse que tinha um pasto verdinho pra ela matar a fome. Mas quando ela chegou lá, ele colocou uma lente verde nos olhos dela pra que visse os matos secos como se fossem verdes. Ela comeu tudo — capinou o quintal dele achando que era pasto fresco!
— A pobrezinha quase morreu com dor de barriga. E sabe o que ele fez? Ficou deitado na rede, assistindo tudo… E só não foi tragédia porque o Bode chegou a tempo e salvou a Vaca.
O Cavalo finalizou, cuspindo no chão: — Essa água que ele te oferece, se não for mijo de bode, é veneno.
Em seguida, deu coices em direção ao Urubu, que voou e pousou num galho distante, apenas observando… principalmente o filhinho da galinha, que já estava muito mal.
Não demorou muito e o pintinho desmaiou. A sede era tanta que ele começou a espumar pelo bico.
Enquanto a Galinha e o Cavalo se afastaram em busca de outra solução, o Urubu voou em silêncio. Pegou o filhinho desmaiado e desapareceu no céu.
Ao notarem o sumiço do filhote, a Galinha e o Cavalo entraram em desespero e seguiram os rastros do Urubu, certos de que ele faria alguma crueldade.
Depois de uma longa caminhada, encontraram o pintinho. Estava acordado, com o rostinho corado e o papo cheio de água fresca.
— Mamãe… ele me salvou — disse o pintinho.
Ao lado, estava o Urubu caído. Morto de sede.
A última gota de água que ele tinha… ele deu para salvar o filhinho da Galinha.
A Galinha e o Cavalo caíram em si. Choraram. Choraram muito.
Tinham sido cruéis, frios… e o Urubu, pela primeira vez, foi realmente bom.
Mas agora era tarde demais para agradecer.
O Urubu jazia no além.

Na vida, há pessoas que erram a vida inteira. E quando resolvem mudar, enfrentam um obstáculo cruel: ninguém mais acredita nelas.
Quem mente demais, quando fala a verdade, é tratado como mentiroso.
Mas existe um ser no céu que vê tudo. Nada escapa aos olhos de Deus, nosso Pai, o Criador do Universo.

Mostre essa história.
Muita gente precisa ouvir esse consolo, esse alento.

Escritor Isaías Bastos

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