Professora morre sob pressão escolar em Curitiba, relata APP-Sindicato
A morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade, nesta sexta-feira (30), escancarou os efeitos letais do modelo de gestão escolar adotado no Paraná. Aos olhos da burocracia, era mais uma trabalhadora PSS. Para os alunos do Colégio Estadual Jayme Canet, em Curitiba, era uma professora respeitada, dedicada e querida. Para o governo, mais um número a ser reposto. Para a educação, uma perda irreparável.

Silvaneide sofreu um infarto fulminante dentro da escola. Estava em sala de aula, exercendo sua função, quando foi chamada pela equipe pedagógica. Caiu ali mesmo, na linha de frente de um sistema que, segundo relatos, pressiona, vigia e adoece.Clima de comoção e revoltaA APP-Sindicato reagiu com pesar e denúncia. Dirigentes estiveram no local para acompanhar os fatos e prestar solidariedade. A presidenta do Núcleo Curitiba Sul, Natália dos Santos da Silva, lamentou a tragédia: “É um momento de muita dor. Estamos aqui para apoiar a escola e a família.”
Mais contundente foi o secretário-geral da entidade, Celso José dos Santos: “É mais uma professora que faleceu neste modelo de educação que pressiona e vigia. Lutamos para que a escola seja um lugar saudável, não um ambiente que leve uma educadora à morte.”O relato da professora Luzenaide Leal revela o retrato de um corpo docente à beira do colapso: “Era uma professora dedicada. Essa dor poderia ser evitada com menos pressão e mais acolhimento. As escolas deixaram de ser espaços seguros também para os professores.”
Veroni Salete Del Ré, também da rede PSS, acrescenta: “Hoje vi colegas lecionando com atestado. Isso mostra o assédio institucional e a sobrecarga que enfrentamos diariamente.”
Modelo gerencial sob escrutínio
A morte de Silvaneide não foi um acaso. Ela é resultado de um ambiente escolar marcado por metas inalcançáveis, monitoramento constante e gestão por resultados – práticas adotadas no bojo de reformas educacionais que precarizam vínculos e terceirizam responsabilidades.
O modelo PSS (Processo Seletivo Simplificado) é parte desse mecanismo. Contrata sem garantias, remunera mal e impõe rotinas exaustivas. O adoecimento psicológico e físico dos profissionais da educação tornou-se uma epidemia silenciosa.
Os dados não mentem. Segundo levantamento da própria APP-Sindicato, cresce o número de docentes afastados por estresse, crises de ansiedade e burnout. A morte da professora Silvaneide, portanto, não foi apenas um episódio isolado – é um alerta sobre um sistema que está matando seus agentes pela base.

O que está em jogo
Segundo a APP-Sindicato, a morte de Silvaneide precisa ser tratada como o que de fato representa: um marco trágico na luta por condições dignas de trabalho na educação pública do Paraná. Não se trata apenas de homenageá-la postumamente, diz a entidade, mas de revisar todo um modelo que, em nome da eficiência, tem desumanizado a docência.
A comunidade escolar do Jayme Canet – alunos, colegas, direção – não será mais a mesma, ressalta o sindicato da educação. A dor compartilhada pela categoria pode, no entanto, afirma a APP, se transformar em ação coletiva. Que esta tragédia seja um ponto de inflexão para exigir políticas públicas com foco no cuidado, na valorização dos profissionais da educação e no combate sistemático ao assédio institucional — finaliza.
Fonte:
Blog do esmael