Educação

Aluno-Rei, Professor-Servo: O Mundo Escolar de Ponta Cabeça


Amigos vamos falar com educação. Em tempos não tão distantes, o professor era o guardião do saber, o mestre da autoridade pedagógica. Hoje, em muitas salas de aula do Brasil — especialmente nas periferias com as de São Paulo — esse papel parece ter sido posto em xeque por uma inversão tão absurda quanto reveladora: o aluno assumiu o trono, e o professor, o avental. A escola virou palco de um teatro onde o script foi rasgado e reescrito pelo descompasso entre autoridade e afetividade, tratamos disso no artigo anterior “Que escola é essa?”.


Voltemos a pintar essa cena cotidiana com as cores do que realmente acontece. O Professor entra em sala, planeja, prepara a aula, tenta provocar interesse. O aluno chega atrasado, mexendo no celular, ignora. Interpelado, responde com desdém. Se contrariado, reage com ironia, impaciência ou pura hostilidade. A autoridade do professor virou uma sombra do que já foi, e qualquer tentativa de restaurá-la é tida como autoritarismo — um pecado capital no novo catecismo pedagógico do “aluno em primeiro lugar”. Há pouco tempo um professor de Biologia iniciou a aula organizando a classe para atividade do dia, solicitou que eles levantassem e se colocassem ao lado de suas carteiras, no que ouviu de pronto, alto e em bom som “Oxi! pra que isso? Nada vê! ”, ao mesmo tempo que cinco alunos se recusaram a se levantar com um deles falando em tom agressivo “Quero ver quem vai me fazer levantar!”


Não se trata aqui de nostalgia do chicote verbal, nem do saudosismo de giz e palmatória. Trata-se de encarar que a autoridade — quando equilibrada com afeto e propósito — é essencial para a formação humana. No entanto, muitos professores se veem reduzidos à figura de animadores pedagógicos: devem entreter, seduzir e, se possível, não exigir. A aula, hoje, é avaliada não por sua densidade, mas por sua leveza emocional — o que, muitas vezes, se traduz na simples permissão do uso livre do celular em sala de aula.” O fenômeno é agravado por uma cultura que transformou o estudante em cliente — e cliente, como sabemos, tem sempre razão. O professor tornou-se o funcionário da experiência escolar do aluno, e o conteúdo virou produto que precisa ser “apresentado com empatia” — mesmo que ninguém esteja interessado em consumi-lo.
O mais trágico? Muitos pais reforçam essa lógica.

Diante de qualquer atrito, correm para a escola não para dialogar, mas para acusar: “O professor gritou”, “Não deixou ir ao banheiro”, “Meu filho não gosta dele”. A palavra do professor, antes bastião de verdade escolar, foi reduzida a alegação defensiva. A escola, que deveria ser um espaço de tensão criativa entre liberdade e disciplina, se torna refém do afeto volátil dos adolescentes e da conivência de seus responsáveis. Em uma reunião com pais de alunos a mãe, frente a seu filho amado alegou que o menino só havia chamado o professor de “gorila” porque este havia dado “Liberdade” para ele chamá-lo assim.
Mas nem tudo está perdido. Existem resistências discretas — professores que, mesmo acuados, mantêm a espinha ereta. Alunos que, mesmo cercados de permissividade, escolhem respeitar. Pais que compreendem que educar exige desconforto, limites e, sim, frustração. Ao final da do dia, na última aula do período noturno, um grupo de alunos se aproxima da professora e dispara “O Prô! A Sra. bugou nossa mente com aquela conversa de que ainda somos escravos e….”

A escola precisa reencontrar sua alma. Isso não se faz com fórmulas mágicas ou slogans motivacionais. Exige coragem institucional, clareza pedagógica e uma nova aliança entre família e escola. O professor precisa voltar a ser referência — não servo do humor do dia. E o aluno precisa compreender que crescer não é um direito absoluto, mas uma jornada que exige humildade e esforço.
Depois falaremos sobre como esse desequilíbrio está diretamente ligado à estrutura pedagógica das escolas e à lógica binária que ainda rege nossas formas de ensinar. Porque, se o rei está nu, talvez seja hora de mudar o alfaiate.
Se você achou que faz sentido? Deixe nos comentários sua opinião, afinal “Que escola é essa? A dos alunos reis ou a dos professores servos? Até mais meus caros.
Texto – João de Loyola.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×