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Adeus ao mestre: morre Sebastião Salgado, ícone da fotografia que inspirou minha trajetória e deixou um legado imortal em preto e branco

Hoje o mundo da fotografia se despede de um de seus maiores ícones, Sebastião Salgado, que faleceu nesta sexta-feira, aos 81 anos, em Paris, onde vivia. Para mim, é uma perda irreparável, pois foi nele que sempre encontrei a inspiração para me formar e me tornar fotógrafo profissional. Tive a honra de conhecê-lo e aprender com este mestre, que fez parte do comitê dos notáveis da fotografia, ao lado de grandes nomes, sempre defendendo com paixão e profundidade a arte de eternizar imagens.

Sebastião Salgado enfrentava problemas decorrentes de uma malária adquirida nos anos 1990.

Sua partida deixa um vazio imenso, mas também um dos maiores legados da fotografia mundial: o preto e o branco lado a lado, não como ausência de cor, mas como essência, como poesia pura em imagens.

Natural de Aimorés, Minas Gerais, Salgado fotografou em mais de 100 países, sempre com um olhar sensível e comprometido com causas ambientais e sociais. Seu trabalho, inteiramente em preto e branco, marcou gerações e mudou a forma como o mundo vê a fotografia documental. Em suas próprias palavras, “o preto e branco é uma abstração, é uma forma que eu tenho de sair de um mundo e entrar em outro para poder trabalhar o meu sujeito fotográfico, poder dedicar tempo à dignidade das pessoas. Isso eu consigo em preto e branco, acho que em cores eu não conseguiria”.

Ele nunca escondeu sua preferência: para ele, a cor era “inconveniente”. Explicava que, na fotografia em preto e branco, conseguia recuperar a intensidade do momento vivido, algo que a cor, para ele, não proporcionava. Essa escolha estética e filosófica se consolidou como sua marca registrada, um traço inconfundível do seu olhar.

Em seu livro autobiográfico, Da minha terra à terra, ele aprofundou essa visão: “Não preciso do verde para mostrar as árvores, nem do azul para mostrar o mar ou o céu. A cor pouco me interessa na fotografia”. Para Salgado, a fotografia era mais do que o registro de uma cena: era uma vivência, uma entrega, um compromisso ético e estético com a humanidade.

Mesmo diante das dificuldades impostas por essa escolha, como nas viagens aos universos brancos da Antártica e da Sibéria, ele manteve-se fiel ao preto e branco. Para ele, esse caminho exigia mais trabalho, mais sensibilidade, mas também resultava em imagens de beleza inigualável.

Além da fotografia, Sebastião Salgado também deixou uma marca profunda na preservação ambiental. Ao lado da esposa, a pianista Lélia Deluiz Wanick Salgado, com quem teve dois filhos, fundou o Instituto Terra, um projeto exemplar de reflorestamento e revitalização comunitária em Minas Gerais. Foi através dessa instituição que a notícia de sua morte foi comunicada ao mundo, com palavras que sintetizam sua grandeza: “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”.

Sebastião Salgado parte, mas sua obra permanece eterna, inspirando fotógrafos como eu e tantos outros que aprendemos, através do seu olhar, a ver além das cores, além das formas, e a buscar, em cada imagem, a essência humana e a dignidade dos retratados. Hoje, a fotografia mundial se curva diante de sua memória, reverente ao mestre que fez do preto e branco um hino à beleza e à resistência da vida.

Fonte:Itapevi Notícias

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