Desabafo de filha de médico internado com coronavírus viraliza: ‘Parem com as festinhas’
“Ele não podia seguir as orientações do Ministério da Saúde sobre a quarentena. Isso me doeu, me doeu ver que meu pai estava trabalhando, fazendo o que sempre sonhou, e foi atingido. Enquanto muitos que seguem fazendo festinhas escondidas, aglomerações desnecessárias, corridinha na praia, estão com a consciência limpa”, publicou a estudante de medicina Laura Almeida Liberti, de 23 anos, após o pai, que é médico, ir para a UTI pela Covid-19 em Guarujá, no litoral paulista.

A publicação que era apenas um desabafo de conscientização repercutiu nas redes sociais para além de seus seguidores. Laura é filha do obstetra e ginecologista Sandro Liberti, de 49 anos, que por ser de uma profissão considerada essencial continuou exercendo o trabalho durante a quarentena. No desabafo, a jovem pede que as pessoas ‘parem com as festinhas’ e fiquem em casa.

De acordo com a estudante, o pai teve mudanças na rotina de trabalho, já como forma de prevenção à doença. Consultas foram canceladas, sendo mantido apenas o atendimento para gestantes na fase de pré-natal. “Em relação aos partos, ele continuou cumprindo o acompanhamento das gestantes e realizando tanto parto natural quanto cesárea. É um trabalho essencial e ele não podia parar. Os bebês continuam nascendo, mesmo com a pandemia. Então, ele continuou lá”, diz.
Recentemente, Sandro passou a apresentar tosse seca com frequência, mas pensou que era apenas alergia. Porém, apresentou falta de ar depois de alguns dias e desconfiou que poderia ser Covid-19. “Meu pai não sabe dizer exatamente quando pegou a doença, pois não parou de trabalhar e estava em contato contínuo com o vírus”, afirma a filha.

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Laura publicou texto nas redes sociais sobre a internação do pai, que é medico e realiza partos. — Foto: Reprodução/Facebook
A doença se agravou de terça (5) para quarta-feira (6), quando o obstetra estava de plantão e sentiu novamente falta de ar, porém mais forte que antes. “Na nossa rotina em casa, deixamos um cesto na entrada do apartamento, onde todas as roupas são retiradas e colocadas lá, inclusive os sapatos, que são mantidos do lado de fora. Minha mãe e meu pai sempre mantinham distância da gente, mesmo dentro de casa, só podíamos nos aproximar depois de ambos tomarem banho e trocarem a roupa”, explica Laura.
“Ver meu pai internado e o desrespeito de muitas pessoas com a quarentena é uma mistura de sentimentos. Se isso parte de pessoas que conheço ou tenho amizade, fico magoada, se são desconhecidos, acabo ficando com raiva e me questionando o motivo da falta de respeito e empatia. A minha reflexão é se a população realmente não entende a gravidade do que está acontecendo no Brasil ou falta humanidade naqueles que não respeitam”.

De acordo com ela, o momento é muito difícil para o pai e toda a família. O médico é do grupo de risco por apresentar comorbidades, o que os deixam ainda mais preocupados. “O termo quarentena está sendo interpretado de forma errônea por muitas pessoas, o resultado final de não respeitar as medidas de prevenção é um prolongamento do surto e mais óbitos”, acrescenta.
A postagem da jovem nas redes sociais teve milhares de curtidas e compartilhamentos. “Postei porque queria de alguma forma conscientizar as pessoas a respeito disso. Quando vi que meu pai estava dentro de uma UTI com a doença, fiquei muito assustada com tudo, mas pensei que talvez fosse uma forma de conscientizar sobre o quão importante é seguir as orientações do Ministério da Saúde. Nunca imaginei que fosse tomar essa proporção, mas a intenção foi aproximar as pessoas do quadro atual da doença e mostrar que pode acontecer com qualquer um, só que desta vez o escolhido foi meu pai”, conclui Laura.

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FONTE: G1