Os Quatro Elementos Vitais da Educação: Muito Além das Provas e das Notas
Por João de Loyola
Meus amigos, novamente me desculpo pelo tom professoral desta conversa, mas é necessário a bem da educação. Afirmo que o pensamento binário, que abordei anteriormente, traz para boa parte das pessoas a simplificação e a entrega rápida tipo fastfood, o que aqui vamos dispensar por razões óbvias. “Respostas simples para perguntas complexas geralmente estão erradas!”
Portanto, quem dera a educação fosse tão simples quanto os testes de múltipla escolha. Quem dera ela coubesse somente entre o “certo” e o “errado”, entre o “presente” e o “ausente”, entre o “nota azul” e a “nota vermelha”. Mas não. A educação, assim como a vida, não cabe somente em binários. E quem insiste em reduzi-la a isso está, ainda que bem-intencionado, está cometendo o pecado da simplificação do humano.

Para romper com essa visão simplista, propomos uma analogia que vem do íntimo da vida: do DNA, o mesmo das aulas de Biologia do Ensino Médio, cujo cidadão médio tem dificuldade de entender. Sim, aquele que define o que somos – em quatro bases nitrogenadas – também pode inspirar o que deveríamos ensinar enquanto professores, lógico que é por analogia direta, então vamos exemplificar no quadro abaixo para ficar mais palatável.
No sistema educacional, poderíamos fazer a seguinte analogia:
Base do DNA
Equivalente Educacional
Papel
Adenina
Conhecimento (conteúdo curricular)
Fundamenta a formação intelectual
Timina
Relações Sociais (interações aluno-professor)
Permite o funcionamento social saudável
Citosina
Habilidades Socioemocionais
Sustenta a resiliência emocional e mental
Guanina
Contexto Cultural e Comunitário
Fornece identidade e vínculo ao território

Essa é a tal visão quaternária. Ela integra dimensões esquecidas pela pedagogia tradicional e pela lógica da planilha, mas que moldam o sujeito em sua plenitude. E essa mesma visão encontra eco nos Quatro Pilares da Educação, propostos pela UNESCO em 1996, no Relatório Delors: Vejamos o quadro abaixo então.
Pilar da Educação
DNA Educacional
Papel
Aprender a Conhecer
Adenina
Domínio cognitivo, aquisição de conteúdo
Aprender a Conviver
Timina
Dimensão relacional, empática e interpessoal
Aprender a Ser
Citosina
Desenvolvimento emocional, identidade e resiliência
Aprender a Fazer
Guanina
Aplicação prática, inserção no contexto cultural e comunitário
Esses pilares não são abstrações inalcançáveis. São guias. E ao conectá-los ao modelo de DNA educacional, oferecemos algo poderoso: uma forma de ler a escola não como uma máquina de notas, mas como um organismo vivo que se intercambia, modifica e evolui para uma sociedade melhor, se bem aplicado é claro. .
Aliás, o próprio sistema educacional funciona como um ecossistema, e aqui vale emprestar a visão de Bronfenbrenner:
Dimensão Mundial (UNESCO, ONU, diretrizes globais)
Dimensão Federal (leis nacionais)
Dimensão Estadual (currículos regionais)
Dimensão Municipal (secretarias locais)
Dimensão Escolar (gestão, projeto político-pedagógico)
Dimensão Sala de Aula (mediação do professor)
Dimensão Aluno (realidade concreta, individual, subjetiva)
Essas esferas se organizam entre o “ideal” (as camadas superiores, que propõem metas) e o “real” (a sala de aula e o aluno). E é justamente nesse abismo entre o ideal e o real que se instala o desafio da educação periférica.

Aqui entra Vygotsky. Sua Zona de Desenvolvimento ,Proximal (ZDP) é o espaço entre o que o aluno já sabe fazer sozinho e o que pode fazer com ajuda. Ora, esse espaço é ocupado por quem? Pelo professor, claro. Mas também pelas políticas, pelos contextos, pela cultura escolar.
Se não houver alinhamento entre estas dimensões e o DNA educacional, a ZDP vira ZAP: um espaço de zumbido, ruído e ausência de sentido.
A visão binária, aquela que domina provas e rankings, padroniza o indivíduo e desumaniza o processo. A visão quaternária, ao contrário, reconhece que educar é formar. E formar exige conhecer, fazer, conviver e ser.
E é nas escolas periféricas que esse modelo é mais urgente. Lá onde a violência não está nas plataformas digitais, mas no bairro. Onde o abandono escolar compete com o trabalho infantil. Onde a autoestima é corroída não pela média 5, mas pela ausência de referência.
Não, Não sou contra as avaliações, porque elas são, em essência, não binárias, e medem de forma eficaz o desempenho do aluno, e aqui vale uma observação, as avaliações são para medir desempenho dos alunos, no que ele aprendeu ou subir as notas nos indicadores para mostrar que o discente soube colocar o “X” no lugar certo?
A educação precisa ser multidimensional, não uma reta. Precisa pulsar com vida, não com métricas. Porque não basta o aluno saber para passar de ano. Ele precisa saber ser, saber conviver, saber fazer sentido na própria história.
Talvez assim, com menos provas e mais processos, com menos planilhas e mais propósitos, possamos reconstruir o organismo escolar de dentro para fora. Não como um sistema binário de avaliação, mas como um DNA pedagógico de quatro elos fundamentais e quem sabe um dia sexagenais, aguardemos o tic tac do relógio dos tempos futuros.
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Veja nossos artigos anteriores nos links abaixo.
“DNA Escolar: Por Que Precisamos Deixar a Educação Binária Para Trás” https://www.tribunadebarueri.com.br/educacao-paulista/dna-escolar-por-que-precisamos-deixar-a-educacao-binaria-para-tras/
“Aluno-Rei, Professor-Servo: O Mundo Escolar de Ponta Cabeça”
https://www.tribunadebarueri.com.br/educacao/aluno-rei-professor-servo-o-mundo-escolar-de-ponta-cabe
Texto, fotos e arte João de Loyola