História que o povo conta

Jovens aprendizes de antigamente

Dizem que em um tempo antigo, jovens aprendizes caminhavam ao lado de um velho sábio, atentos a cada palavra, buscando se preparar para o desconhecido da vida adulta.

O outono avançava, e com ele o frio se instalava devagar nos ossos e nas manhãs.

Num desses dias em que o vento já carregava cheiro de folhas secas, os jovens se aproximaram do mestre e perguntaram:

— Mestre… como devemos nos vestir para este tempo que chega?

O velho os olhou com ternura e respondeu apenas:

— Vistam-se como os campos.

Intrigados, os jovens subiram uma colina e ali permaneceram, contemplando os campos por dias. Depois, desceram à cidade e buscaram tecidos em mil cores e texturas — sedas brilhantes, cetins macios, veludos espessos.

Carregaram cestas cheias de fios dourados e prateados, de linho e de lã. E aos poucos, costuraram com esmero longas vestes que imitavam a beleza da terra: o verde vibrante da primavera, o dourado dos trigais maduros, o cinza das chuvas, e até o branco da neve recém-caída.

As roupas ficaram suntuosas como mantos de reis. Mas o sábio, diante de tanta beleza… nada disse.

Entre eles, havia um jovem pequeno, quase esquecido. Ele não desceu à cidade. Preferiu esperar a floração do algodão. Quando os tufos nasceram, colheu-os com as mãos. Fiou, teceu, costurou sua própria roupa. E, diferente dos outros, foi ao campo trabalhar.

Arou a terra. Plantou sementes com paciência. Sujou-se com barro, seiva, sumo de frutas. Lavava sua roupa no regato, mas ela já não era branca. Com o tempo, o tecido se rasgou.

Ele então emendou com lã, costurou remendos, adaptou mangas grossas para o frio do inverno. Sua roupa se tornou um mosaico, viva como o próprio campo.

Certa manhã, já próximo da primavera, com os pés enterrados na terra úmida, algo aconteceu. Um pássaro pousou em seu ombro. Não o temeu.

Ciscou entre os fios da veste remendada, sacudiu as penas, como se ali fosse ninho, abrigo. E então, o pássaro cantou.

Lá de longe, o velho sábio assistia em silêncio. E pela primeira vez, sorriu.
D.A

👆🏿 Fonte: Facebook diversidade

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