A mulher e a cobra
A mulher foi buscar água no rio e, ao ver a cobra chorando de dor e ferida, a socorreu. Levou-a para sua casa.
A cobra propôs à mulher:
— Você cuida de mim… em troca, eu lhe dou proteção.
E assim elas fizeram.
Carinhosamente, a mulher cuidou da cobra.
Não por amor, mas pela proteção que a cobra oferecia.
A cobra também protegeu a mulher.
Não por amor, mas pelo cuidado que recebia.
À noite, enquanto a mulher dormia, a cobra rondava a casa, vigiando.
De manhã, tomavam café juntas e passeavam pelo bosque.
Tudo parecia harmonia…
Até que um dia, sem qualquer aviso, a cobra mordeu a mulher e fugiu.
Indignada, a mulher ardia em dor — não apenas da mordida, mas da traição.
Ela queria uma explicação.
Revirou a casa: embaixo da cama, atrás do sofá, nada da cobra.
Saiu pelo mundo afora com o corpo latejando.
Procurou na floresta.
No vale.
No deserto.
Até que, passando por uma caverna, encontrou a serpente escondida lá.

Mesmo fraca, com o veneno já dominando o corpo, a mulher gritou:
— Encare-me! Diga por que me feriu? Eu cuidei de você! Eu te salvei! Te dei abrigo!
— Eu não mordi porque quis — sibilou a cobra — você colocou sua mão pesada sobre mim. Tentei de tudo… não consegui me soltar. Morder foi meu único recurso.
— E por que não me disse? Por que não pediu pra eu tirar a mão?
A discussão seguiu…
Uma tentando provar que estava certa, a outra fugindo da culpa.
O tempo foi escorrendo.
E com ele, o sangue da mulher.
Por fim, a conversa não resolveu nada.
Nem perdão. Nem entendimento. Nem cura.
Só mais veneno correndo nas veias.
Desesperada, a mulher correu para o hospital.
Caiu na porta da entrada, já em coma.
Seus olhos não enxergavam mais.
Mas seus ouvidos ainda podiam ouvir…
— Infelizmente, esse caso não tem mais solução. Ela demorou demais pra buscar ajuda… disse o médico.
A pior coisa que você pode fazer quando é mordido…
é gastar tempo precioso tentando entender por que te feriram.
Discutir com quem te machucou só espalha mais o veneno.
Não insista em explicações onde não há consciência.
Se alguém te destruiu com palavras, mentiras ou atitudes…
Dê as costas. Vá cuidar da sua alma. Do seu sangue. Da sua vida…
Escritor Isaías Bastos